A Rede se propõe a realizar um processo continuado de formação de coletores de sementes nas cabeceiras do rio Xingu, para disponibilizarem sementes da flora regional na quantidade e com a qualidade que o mercado demanda; formar uma plataforma de troca e comercialização de sementes; valorizar a floresta nativa e seus usos culturais diversos, gerar renda para agricultores familiares e comunidades indígenas e servir como um canal de comunicação e intercâmbio entre coletores de sementes, viveiros, ONGs, proprietários rurais e demais interessados.
A Rede já realizou cinco encontros, além das oficinas de capacitação. Nesses encontros são tomadas decisões coletivas como, por exemplo, elaboração da tabela de preço e definição de espécies prioritárias; troca de experiências entre coletores e nós (pessoas responsáveis pela articulação da rede em assentamentos ou cidades) da rede; organização do trabalho e funcionamento da rede; traçar as linhas de atuação da rede; etc.
A Rede de Sementes do Xingu possui dois locais para o armazenamento de sementes (casas de sementes): em Canarana, a maior e melhor equipada, e São José do Xingu. Nesses locais também existem viveiros e são realizados testes de germinação e a identificação da espécie coletada. Nesses locais, em 2007, foram armazenadas cinco toneladas de sementes de 120 espécies e em 2008 e início de 2009 oito toneladas de sementes de 194 espécies, o suficiente para reflorestar e enriquecer até quinhentos hectares.
Atualmente fazem parte da rede 75 coletores, 15 nós, 6 comunidades indígenas e 19 entidades de 15 municípios localizados nos eixos das rodovias BR-158 e BR-163: Nova Xavantina, Água Boa, Querência, Canarana, Gaúcha do Norte, Bom Jesus do Araguaia, São José do Xingu, Confresa, São Félix do Araguaia, Cláudia, Marcelândia, Alta Floresta, Lucas do Rio Verde e Apiacás. As Instituições participantes são: CPT Araguaia, Associação Terra Viva, ANSA, PA Brasil Novo, PA Jaraguá, PA Bordolândia, PA Dom Pedro, Associação Agroecológica Ribeirão, Prefeitura Municipal de Gaúcha do Norte, EMPAER, Prefeitura Municipal de Canarana, Prefeitura Municipal de Marcelândia - Viveiro, Instituto Socioambiental (ISA), Instituto Centro de Vida (ICV), o Grupo de Apoio e Proteção Ambiental (GAPA), Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Lucas do Rio Verde, Movimento Jovem Ikpeng (MIJ), Associação Moygu, Associação Yarikaryu, Aldeia Ilha Grande (Kaiabi) e Aldeia Tuiararé (Kaiabi).
A rede oferece a troca e doação de sementes, entre os coletores 10% da coleta feita são ofertadas para instituições, escolas, para trabalho com educação ambiental e pequenos projetos de reflorestamento através da agrofloresta (casadão). Há ainda critérios criados pelos próprios coletores para quem quer se inserir na rede. É preciso que tenha compromisso com a questão ambiental, preservando as suas matas ciliares, se tem APP degradada recuperar 0,5ha por ano, se utilizar fogo que seja de uso responsável, não deixando escapar para as matas e nem vizinhos.
O grande desafio da Rede de coletores de sementes do Xingu é a estruturação dos núcleos localizados nos assentamentos e comunidades indígenas e a construção de casas de sementes nesses locais; a elaboração de um banco de dados para facilitar a organização de pedidos, entregas e disponibilidades de sementes na rede; credenciamento e inscrição dos coletores no RENASEM; troca de experiências com outras redes de sementes e a comercialização de sementes em outros Estados, bem como resgatar as sementes tradicionais ou crioulas.
O V Encontro da Rede de Sementes Xingu ocorreu no Centro Comunitario Pe. Josimo em Porto Alegre do Norte nos dias 19 e 20 de setembro de 2009 com direito a Festa de Lançamento do livro "Plante as Árvores do Xingu e Araguaia" na noite do sábado com uma animada noite cultural. Estiveram presentes representantes de 3 etnias indígenas- Ikpeng, Kaibi e Panará -, 12 assentamentos rurais, 4 viveiros e 6 instituições da sociedade civil, vindos de 16 municípios: Nova Xavantina, Água Boa, Canarana, Querência, Bom Jesus do Araguaia, São Félix do Araguaia, Canabrava do Norte, Porto Alegre do Norte, São José do Xingu, Santa Cruz do Xingu, Cláudia, Marcelândia, Feliz Natal, Peixoto de Azevedo, Guarantã do Norte e Carlinda.
Neste V Encontro, as instituições CPT, ATV, ANSA, ISA discutiram sobre suas atuações dentro da Rede de Sementes do Xingu, os coletores discutiram sobre os princípios e regras da Rede, definiram o logo da Rede, reviram a tabela de preços das sementes e trocaram experiências sobre inovações técnicas em coleta, beneficiamento e armazenamento de sementes. Os "nós" da Rede, que são facilitadores ligados a cada núcleo de coleta, conversaram sobre suas atuações e possibilidades de aprimoramento.
Além disso, tivemos a importante contribuição e participação da Companheira Vanúbia Martins, da Comissão Pastoral da Terra - CPT da Paraíba, trazendo a experiência das Sementes da Paixão, e levantando a discussão sobre a organização e os cuidados a tomar e caminhos futuros a trilhar no trabalho com a nossa Rede do Xingu.
Vanúbia contou que no Nordeste a Rede de Sementes da Paixão teve a sua criação baseada na necessidade das famílias subsistirem às características da Caatinga. A sequidão da região exigiu que os habitantes criassem estratégias para sobreviver à falta de chuva por períodos até de sete anos consecutivos. São sementes de milho, feijão, arroz, abóbora e espécies de tubérculos que fazem parte da culinária Nordestina.
Este material genético tem sido guardado com as mais variadas técnicas para resistir ao clima, aos ataques de animais e fungos, mas também da extrema necessidade de saciar a fome imediata das famílias. Envolver as sementes em barro e guardar as sementes em vidros e tampar com algodão imerso em pimenta e cinza são técnicas que garantem a temperatura e livram dos ataques dos fungos e outros animais. Para manter a integridade das sementes foram realizadas oficinas para que cada família em cada subgrupo aprendesse a fabricar os silos.
As Sementes da Paixão são formados pelas famílias que se esforçam em manter o cadastro das espécies coletadas. As famílias coletam as sementes a cada safra e separam uma parte para o grupo que vai utilizá-la conforme as necessidades apresentadas pelos nove grupos existentes em todo o estado da Paraíba. Os grupos são autônomos, porém se articulam para manter o fluxo de espécies e manter os silos micro regionais abastecidos. Há reuniões mensais, trimestrais, anuais e bianuais para traçar as estratégias locais, estaduais e regionais, pois o grupo das Sementes da Paixão da Paraíba se articula com outros grupos da Região Nordeste.
Para Vanúbia a Rede do Xingu precisa atentar para a necessidade de ir além dos resultados da comercialização para o reflorestamento, é preciso atentar para a importância da organização do grupo de coletor@s na construção de um novo modelo de desenvolvimento econômico, baseada no projeto de coletividade que contemple as questões ambientais, sociais e econômicas da região e do país.
Conseguimos que a CONAB adquira os alimentos dos grupos organizados e que disponibilize os prioritariamente os produtos oriundos destes processos socialmente assumidos, garantindo assim a qualidade na procedência do alimento para o consumo e a qualidade do material genético.
Temos lutado para inserir as demandas da agricultura familiar na pauta dos governos e conseguimos que o estado da Paraíba assuma as Sementes da Paixão como política pública.
A Rede de Sementes do Xingu recebeu esse ano encomendas que somam 50 toneladas de sementes, de mais de 200 espécies de árvores, arbusto cipós e leguminosas de adubação verde.
Na noite de sábado foi realizado o lançamento do livro com a animada participação de músicos da região, Placides Lima (sanfoneiro) do P.A Manah, Alexandre e Maíra de São Felix (percussão e pífano), Arnon de Confresa (violão), Edilson e Tiago de Santa Terezinha (violão) e uma dupla de violeiros de Porto Alegre (Navegante e Jose Zate), apresentação de musicas e danças dos indígenas do parque do Xingu, alem de exposição de artesanato com buriti.
O livro “Plante as árvores do Xingu e Araguaia é formado por dois volumes. O primeiro, o Manual do Plantador apresenta o passo-a-passo para quem quer plantar árvore nativa, desde a legislação, a coleta de sementes até as várias formas de plantio. Já o Guia de Identificação tem informações e fotos reunidas localmente sobre espécies de plantas nativas das bacias hidrográficas do Xingu e Araguaia. Elas foram selecionadas por sua importância como fruta, remédio, óleo, resina, madeira, para abelhas, para jardins e para recuperação de áreas degradadas. As fotos foram coletadas entre pessoas que moram na região, índios, agricultores familiares, assentados da reforma agrária, matogrossenses conhecedores da mata e do cerrado, coletores de sementes, viveiristas, agrônomos, biólogos e engenheiros florestais, organizações que colaboraram na descrição das formas de identificar, usar e plantar cada uma das espécies.
O evento teve ainda participação de Iuri e Leandro, que se tornaram padrinhos e apoiadores da Rede de Sementes do Xingu.