segunda-feira, 28 de setembro de 2009

V ENCONTRO DA REDE DE SEMENTES DO XINGU em Porto Alegre do Norte – MT e Lançamento do Livro: “Plante as Árvores do Xingu Araguaia”.

Rede de Semente do Xingu

A Rede de Coletores de Sementes do Xingu surgiu em novembro de 2007 com os primeiros resultados das experiências de restauração florestal da Campanha Y Ikatu Xingu, através de plantio direto de sementes, e, da necessidade cada vez maior de matéria-prima para a produção de mudas.

A Rede se propõe a realizar um processo continuado de formação de coletores de sementes nas cabeceiras do rio Xingu, para disponibilizarem sementes da flora regional na quantidade e com a qualidade que o mercado demanda; formar uma plataforma de troca e comercialização de sementes; valorizar a floresta nativa e seus usos culturais diversos, gerar renda para agricultores familiares e comunidades indígenas e servir como um canal de comunicação e intercâmbio entre coletores de sementes, viveiros, ONGs, proprietários rurais e demais interessados.

Alem de proporcionar um espaço para varias entidades e coletores a debater sobre a grande ameaça da monocultura, o monopólio e controle das sementes, a valorização e o resgate das sementes tradicionais ou crioulas.

A Rede já realizou cinco encontros, além das oficinas de capacitação. Nesses encontros são tomadas decisões coletivas como, por exemplo, elaboração da tabela de preço e definição de espécies prioritárias; troca de experiências entre coletores e nós (pessoas responsáveis pela articulação da rede em assentamentos ou cidades) da rede; organização do trabalho e funcionamento da rede; traçar as linhas de atuação da rede; etc.

A Rede de Sementes do Xingu possui dois locais para o armazenamento de sementes (casas de sementes): em Canarana, a maior e melhor equipada, e São José do Xingu. Nesses locais também existem viveiros e são realizados testes de germinação e a identificação da espécie coletada. Nesses locais, em 2007, foram armazenadas cinco toneladas de sementes de 120 espécies e em 2008 e início de 2009 oito toneladas de sementes de 194 espécies, o suficiente para reflorestar e enriquecer até quinhentos hectares.

Atualmente fazem parte da rede 75 coletores, 15 nós, 6 comunidades indígenas e 19 entidades de 15 municípios localizados nos eixos das rodovias BR-158 e BR-163: Nova Xavantina, Água Boa, Querência, Canarana, Gaúcha do Norte, Bom Jesus do Araguaia, São José do Xingu, Confresa, São Félix do Araguaia, Cláudia, Marcelândia, Alta Floresta, Lucas do Rio Verde e Apiacás. As Instituições participantes são: CPT Araguaia, Associação Terra Viva, ANSA, PA Brasil Novo, PA Jaraguá, PA Bordolândia, PA Dom Pedro, Associação Agroecológica Ribeirão, Prefeitura Municipal de Gaúcha do Norte, EMPAER, Prefeitura Municipal de Canarana, Prefeitura Municipal de Marcelândia - Viveiro, Instituto Socioambiental (ISA), Instituto Centro de Vida (ICV), o Grupo de Apoio e Proteção Ambiental (GAPA), Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Lucas do Rio Verde, Movimento Jovem Ikpeng (MIJ), Associação Moygu, Associação Yarikaryu, Aldeia Ilha Grande (Kaiabi) e Aldeia Tuiararé (Kaiabi).

A rede oferece a troca e doação de sementes, entre os coletores 10% da coleta feita são ofertadas para instituições, escolas, para trabalho com educação ambiental e pequenos projetos de reflorestamento através da agrofloresta (casadão). Há ainda critérios criados pelos próprios coletores para quem quer se inserir na rede. É preciso que tenha compromisso com a questão ambiental, preservando as suas matas ciliares, se tem APP degradada recuperar 0,5ha por ano, se utilizar fogo que seja de uso responsável, não deixando escapar para as matas e nem vizinhos.

O grande desafio da Rede de coletores de sementes do Xingu é a estruturação dos núcleos localizados nos assentamentos e comunidades indígenas e a construção de casas de sementes nesses locais; a elaboração de um banco de dados para facilitar a organização de pedidos, entregas e disponibilidades de sementes na rede; credenciamento e inscrição dos coletores no RENASEM; troca de experiências com outras redes de sementes e a comercialização de sementes em outros Estados, bem como resgatar as sementes tradicionais ou crioulas.


O V Encontro da Rede de Sementes Xingu ocorreu no Centro Comunitario Pe. Josimo em Porto Alegre do Norte nos dias 19 e 20 de setembro de 2009 com direito a Festa de Lançamento do livro "Plante as Árvores do Xingu e Araguaia" na noite do sábado com uma animada noite cultural. Estiveram presentes representantes de 3 etnias indígenas- Ikpeng, Kaibi e Panará -, 12 assentamentos rurais, 4 viveiros e 6 instituições da sociedade civil, vindos de 16 municípios: Nova Xavantina, Água Boa, Canarana, Querência, Bom Jesus do Araguaia, São Félix do Araguaia, Canabrava do Norte, Porto Alegre do Norte, São José do Xingu, Santa Cruz do Xingu, Cláudia, Marcelândia, Feliz Natal, Peixoto de Azevedo, Guarantã do Norte e Carlinda.

Neste V Encontro, as instituições CPT, ATV, ANSA, ISA discutiram sobre suas atuações dentro da Rede de Sementes do Xingu, os coletores discutiram sobre os princípios e regras da Rede, definiram o logo da Rede, reviram a tabela de preços das sementes e trocaram experiências sobre inovações técnicas em coleta, beneficiamento e armazenamento de sementes. Os "nós" da Rede, que são facilitadores ligados a cada núcleo de coleta, conversaram sobre suas atuações e possibilidades de aprimoramento.

Além disso, tivemos a importante contribuição e participação da Companheira Vanúbia Martins, da Comissão Pastoral da Terra - CPT da Paraíba, trazendo a experiência das Sementes da Paixão, e levantando a discussão sobre a organização e os cuidados a tomar e caminhos futuros a trilhar no trabalho com a nossa Rede do Xingu.

Vanúbia contou que no Nordeste a Rede de Sementes da Paixão teve a sua criação baseada na necessidade das famílias subsistirem às características da Caatinga. A sequidão da região exigiu que os habitantes criassem estratégias para sobreviver à falta de chuva por períodos até de sete anos consecutivos. São sementes de milho, feijão, arroz, abóbora e espécies de tubérculos que fazem parte da culinária Nordestina.

Este material genético tem sido guardado com as mais variadas técnicas para resistir ao clima, aos ataques de animais e fungos, mas também da extrema necessidade de saciar a fome imediata das famílias. Envolver as sementes em barro e guardar as sementes em vidros e tampar com algodão imerso em pimenta e cinza são técnicas que garantem a temperatura e livram dos ataques dos fungos e outros animais. Para manter a integridade das sementes foram realizadas oficinas para que cada família em cada subgrupo aprendesse a fabricar os silos.

As Sementes da Paixão são formados pelas famílias que se esforçam em manter o cadastro das espécies coletadas. As famílias coletam as sementes a cada safra e separam uma parte para o grupo que vai utilizá-la conforme as necessidades apresentadas pelos nove grupos existentes em todo o estado da Paraíba. Os grupos são autônomos, porém se articulam para manter o fluxo de espécies e manter os silos micro regionais abastecidos. Há reuniões mensais, trimestrais, anuais e bianuais para traçar as estratégias locais, estaduais e regionais, pois o grupo das Sementes da Paixão da Paraíba se articula com outros grupos da Região Nordeste.

Para Vanúbia a Rede do Xingu precisa atentar para a necessidade de ir além dos resultados da comercialização para o reflorestamento, é preciso atentar para a importância da organização do grupo de coletor@s na construção de um novo modelo de desenvolvimento econômico, baseada no projeto de coletividade que contemple as questões ambientais, sociais e econômicas da região e do país.

Conseguimos que a CONAB adquira os alimentos dos grupos organizados e que disponibilize os prioritariamente os produtos oriundos destes processos socialmente assumidos, garantindo assim a qualidade na procedência do alimento para o consumo e a qualidade do material genético.
Temos lutado para inserir as demandas da agricultura familiar na pauta dos governos e conseguimos que o estado da Paraíba assuma as Sementes da Paixão como política pública.

A Rede de Sementes do Xingu recebeu esse ano encomendas que somam 50 toneladas de sementes, de mais de 200 espécies de árvores, arbusto cipós e leguminosas de adubação verde.
A festa de Lançamento do Livro Plante as Árvores do Xingu Araguaia.

Na noite de sábado foi realizado o lançamento do livro com a animada participação de músicos da região, Placides Lima (sanfoneiro) do P.A Manah, Alexandre e Maíra de São Felix (percussão e pífano), Arnon de Confresa (violão), Edilson e Tiago de Santa Terezinha (violão) e uma dupla de violeiros de Porto Alegre (Navegante e Jose Zate), apresentação de musicas e danças dos indígenas do parque do Xingu, alem de exposição de artesanato com buriti.


Este livro teve a participação dos coletores, dos quais diversos são também autores, de representantes de instituições parceiras da Rede (ISA, ANSA, CPT, ATV, ICV, APROGER e IOV) e de cidadãos do município. As falas do coordenador da Campanha Y Ikatu Xingu Rodrigo Junqueira, do presidente da Associação Terra Viva, Valdo da Silva, do Grupo Casadão de Canabrava do Norte, Placides Lima e da vice-prefeita do município Marilde Garbin, ressaltaram a importância de se valorizar o conhecimento popular e sua fusão com o conhecimento científico para a recuperação das matas ciliares e para a viabilização socioambiental e econômica da região, parabenizando a designer gráfica Ana Cristina e os autores pela iniciativa e, desde já, requisitando a próxima edição.

O livro “Plante as árvores do Xingu e Araguaia é formado por dois volumes. O primeiro, o Manual do Plantador apresenta o passo-a-passo para quem quer plantar árvore nativa, desde a legislação, a coleta de sementes até as várias formas de plantio. Já o Guia de Identificação tem informações e fotos reunidas localmente sobre espécies de plantas nativas das bacias hidrográficas do Xingu e Araguaia. Elas foram selecionadas por sua importância como fruta, remédio, óleo, resina, madeira, para abelhas, para jardins e para recuperação de áreas degradadas. As fotos foram coletadas entre pessoas que moram na região, índios, agricultores familiares, assentados da reforma agrária, matogrossenses conhecedores da mata e do cerrado, coletores de sementes, viveiristas, agrônomos, biólogos e engenheiros florestais, organizações que colaboraram na descrição das formas de identificar, usar e plantar cada uma das espécies.

O evento teve ainda participação de Iuri e Leandro, que se tornaram padrinhos e apoiadores da Rede de Sementes do Xingu.

sábado, 25 de abril de 2009

Fotos do I Encontro do Casadão






O forrobodó foi dú bom!

Dinâmica de Vinicius e Taiguara no segundo dia do encontro. Ê trem capenga... literalmente!



Primeira visita do segundo dia de encontro na propriedade de seo Acrísio.


Registro do apoio da secretaria de educação de Canabrava.




Segunda visita do segundo dia de encontro na propriedade de seo Placides.


Terceira visita do segundo dia de encontro na propriedade de seo João Bode.

Troca de ideias sobre as visitas realizadas. Casa do seu Miguelim.

Comercialização.

Avaliação final.

Publicação de artigo de Dandara Moraes

Dandara Moraes, associada da Terra Viva e estudante de enfermagem, publica seu primeiro artigo de uma série de muitos, conforme relatou em entrevista a este blog.
O artigo está disponível no sítio www.cbeu.ufgd.edu.br/cbeu na página 84 sob o título "Atividade Artesanal como veículo para educação em saúde da mulher". O mesmo encontra-se no final deste blog.

I Encontro do Casadão

A partir da ideia de realizar um encontro para discutir Casadão (nome regional dado aos Sistemas Agroflorestais - SAFs) pela perspectiva d@ agricultor@, a Terra Viva promoveu o I Encontro do Casadão, realizado nos dias 20 e 21 de abril de 2009, no P.A Manah em Canabrava do Norte/ MT.

Foram aproximadamente 40 pessoas que estiveram em momentos diversos do encontro. Estavam representados os municípios de: Água Boa, Canabrava do Norte, Confresa, Porto Alegre do Norte, Querência, Santa Terezinha, São Félix do Araguaia e São José do Xingu. A metodologia sugerida pela Terra Viva e as instituições parceiras - CPT e Formad, foi manter a informalidade do diálogo para que @s própri@s agricultor@s trocassem suas experiências entre si.















No primeiro dia do encontro vári@s agricultor@s falaram de suas formas de plantio, beneficiamentos da produção e comercialização. A partir da fala del@s pode-se perceber como cada uma/um entende agroecologia e se relaciona com ela. Uns de forma mais comercial, enquanto outr@s estão mais ligad@s à comunidade e também à questão ambiental. Tod@s praticam Casadão, entrentando de formas diversas e assim ocorreu ao longo do encontro o intercâmbio entre agricultor@s. À noite, um bom forró com direito a sanfoneiro e dupla de pífano com Maíra e Alexandre, músic@s de São Félix do Araguaia. A diversão foi garantida e emocionou quem esteve presente. Seo Manoel Amoroso, do P.A Santo Antônio do Fontoura (SJX), disse "tinha cem anos que eu não via um pífano desse. Sempre que tiver, podem me chamar!". O trio ainda garantiu coco de embolada e uma maravilhosa quadrilha pra ninguém ficar de fora!

No segundo dia de encontro foram realizadas as visitas às propriedades de agricultor@s que participam do Casadão no P.A Manah. A primeira visita ocorreu na casa de seu Acrísio e família, que tem um plantio mais voltado para árvores frutíferas. Com a visita d@s coleg@s, seu Acrísio conseguiu tirar dúvidas que tinha sobre a plantação de maracujá e recebeu algumas dicas de adubação verde e plantio consorciado com árvores nativas. A segunda visita ocorreu na propriedade de dona Raimunda e seu Placides, associado da Terra Viva. O Casadão del@s é bastante diversificado, além de um pequeno viveiro que possuem e uma horta. El@s produzem requeijão, licores e doces garantindo a diversidade também no beneficiamento dos produtos que dispõem. A última visita ocorreu na propriedade de dona Natalice e seu João Bode. Com uma profusão de espécies, seu João garantiu um cinturão verde ao redor de sua casa e tem expandido o plantio cada vez mais. Ricardo, de Água Boa, com base no plantio de mandioca de seu João relatou ao grupo sua experiência com o sistema de "muvuca", que é o plantio por sementes de diversas espécies juntas numa mesma "cova" (que tal, berço?! Onde há início de vida, e não morte), como abóbora, girassol, barbatimão, copaíba, feijão andu, caju, junto com a mandioca, garantindo que não haja danos às árvores na retirada da mandioca.

A partir das visitas foi realizada uma nova rodada de experiência para que o que foi discutido entre cada agricultor@ pudesse ser colocado também para @s demais participantes do encontro. Gauchinho de SFA, do P. A Dom Pedro fez o convite a tod@s para a inauguração da sede da Associação da Família Casadão. Seu Menin de Querência sugeriu @s colegas da região que façam um intercâmbio com as outras pessoas de sua comunidade, no P.A Brasil Novo. De maneira que o pessoal de Querência irá a Canabrava do Norte e o pessoal de Canabrava do Norte irá a Querência. Ricardo se disponibilizou a realizar um curso de beneficiamento da mandioca juntamente com a esposa para o Grupo de Mulheres do P.A Manah, que dona Raimunda e dona Natalice fazem parte, além de outras participantes do encontro.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Novo projeto PPP-Ecos

A Associação Terra Viva concorreu ao último edital do Programa de Pequenos Projetos Ecossociais do Cerrado e foi contemplada com um projeto de consolidação de seu projeto anterior. Após dois anos de trabalho em contato com diferentes comunidades e agindo com parcerias como a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e o Fórum Matogrossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento (Formad) na realização de visitas a assentamentos e terras indígenas, bem como seminários de áreas de preservação permanente, além da Articulação Xingu-Araguaia na realização da Campanha contra o uso irracional do fogo, a Terra Viva levantou elementos para a elaboração dessa nova etapa do projeto: o cercamento de áreas de preservação permanente (APP).

O projeto consiste em traçar as famílias interessadas que se comprometam a cercar suas APPs e beneficiá-las com bolas de arame suficientes para o cercamento da área delimitada pela família e pela ATV. A contrapartida das famílias é colocar as estacas para o cercamento e realizar coleta de sementes nativas para o reflorestamento da área. Após o cercamento, a família assina um termo de compromisso e a ATV disponibiliza as bolas de arame.

A ATV ainda está em fase de levantamento dessas famílias que participarão do projeto e o cercamento das áreas deve ocorrer até setembro de 2009.

Na foto, área que será cercada na propriedade de Marcionílio no P.A Santo Antônio do Fontoura - São José do Xingu em março de 2009.

De volta à ativa

Depois de algum tempo de "férias". O blog da Terra Viva volta à ativa! Queremos aqui compartilhar algumas de nossas atividades, bem como ideias sobre meio ambiente, sociedade, educação, agroecologia, dentre vários temas que nos une na Terra Viva. Boa leitura!